A dispareunia é a dor genital persistente ou recorrente que ocorre antes, durante ou após a relação sexual. É uma queixa comum, mas muitas vezes não discutida, que afeta pessoas de todas as idades, orientações e identidades. É fundamental entender que essa dor não é “normal” e merece atenção e tratamento.
Por Que a Dispareunia Acontece?
A dor na relação sexual pode ter diversas causas, e é por isso que uma avaliação cuidadosa é tão importante. Na Terapia Cognitivo-Sexual (TCS), consideramos que fatores biológicos, psicológicos e relacionais frequentemente interagem, contribuindo para o problema.
● Fatores Biológicos: Podem incluir condições ginecológicas como infecções (candidíase, infecções urinárias), endometriose, atrofia vaginal (comum na menopausa, por exemplo), vaginismo (contração involuntária dos músculos da vagina), ou até mesmo efeitos colaterais de certos medicamentos. Um exame médico é essencial para descartar ou tratar essas condições.
● Fatores Psicológicos e Emocionais: A ansiedade, o estresse, a depressão, traumas sexuais anteriores ou uma imagem corporal negativa podem impactar significativamente a experiência sexual. O medo da dor, inclusive, pode criar um ciclo vicioso, levando à tensão muscular e, consequentemente, a mais dor.
● Fatores Relacionais: Dificuldades na comunicação com a parceria, problemas no relacionamento ou falta de preliminares adequadas podem gerar um ambiente de menos excitação e, por sua vez, dor.
Como a Terapia Cognitivo-Sexual (TCS) Pode Ajudar?
A TCS oferece uma abordagem integrada e baseada em evidências para tratar a dispareunia, focando tanto nos aspectos físicos quanto nos emocionais e relacionais. Algumas das técnicas que utilizamos incluem:
● Reestruturação Cognitiva: Trabalhamos para identificar e modificar pensamentos negativos ou distorcidos sobre sexo, dor ou o próprio corpo. Por exemplo, se alguém pensa “sexo sempre dói”, a reestruturação cognitiva ajuda a desafiar essa crença e substituí-la por pensamentos mais realistas e adaptativos.
● Dessensibilização Sistemática: Essa técnica ajuda a reduzir a ansiedade e o medo associados à penetração. Começa-se com exercícios graduais de toque e exploração, avançando progressivamente em intensidade, sempre no ritmo da pessoa e com total consentimento. Isso pode incluir o uso de dilatadores vaginais, por exemplo, sempre com orientação profissional.
● Foco Sensorial: Exercícios de foco sensorial ajudam a pessoa e sua parceria a redescobrir o prazer e a intimidade sem a pressão do desempenho sexual. O objetivo é explorar sensações de toque no corpo (não necessariamente genitais), focando no que é agradável, e não na penetração. Isso reduz a ansiedade e aumenta a conexão.
● Treino de Habilidades de Comunicação: Melhorar a comunicação com a parceria é fundamental. Aprender a expressar desejos, limites e desconfortos de forma clara e respeitosa fortalece a conexão e cria um ambiente de maior segurança e prazer.
Primeiros Passos Para Lidar Com a Dispareunia
Se você está experienciando dor durante a relação sexual, saiba que você não está sozinha(o) e há ajuda disponível. Aqui estão algumas sugestões práticas para começar:
- Converse com um Profissional de Saúde: O primeiro passo é sempre procurar um médico (ginecologista, urologista ou clínico geral) para investigar possíveis causas biológicas da dor. É crucial descartar infecções ou outras condições médicas.
- Comunique-se Com Sua Parceria: Seja aberta(o) e honesta(o) sobre o que você está sentindo. Explique que a dor não é sobre falta de desejo pela pessoa, mas sim uma questão que precisa ser investigada. Trabalhar juntos fortalece a relação.
- Explore a Intimidade Além da Penetração: Redescobrir o prazer através de toques, carícias, massagens e outras formas de intimidade que não envolvam penetração pode diminuir a pressão e o medo da dor, permitindo que o corpo relaxe.
- Considere conversar com um Terapeuta Sexual Certificado: Um especialista em sexualidade humana pode oferecer as ferramentas e o suporte necessários para explorar as causas emocionais, psicológicas e relacionais da dor, e desenvolver estratégias personalizadas para superá-la.
Buscando Ajuda e Cuidado
Lembre-se que cada pessoa é única e cada caso de dispareunia tem suas particularidades. A dor na relação sexual é um sinal de que algo não vai bem, e merece ser tratada com seriedade e empatia. Não hesite em buscar ajuda profissional. Um bom acompanhamento pode transformar sua experiência íntima e trazer de volta o prazer e a conexão que você merece.
Marcio Gadelha
Especialista em Sexologia e Sexualidade Humana
Especialista em Terapia Cognitivo Sexual