A sexualidade humana não é engessada ou algo apenas ligado à reprodução. Ela é viva, muda com o tempo e é influenciada por nossa história, cultura, política e até economia! Entender essas transformações ajuda a cuidar melhor da saúde sexual e do bem-estar em todas as fases da vida.
Desenvolvimento Psicossexual na Infância e Adolescência
O processo começa antes mesmo do nascimento, quando os cromossomos sexuais determinam características biológicas. Desde o útero, e depois com a visualização da genitália, a criança já é inserida em categorias de gênero, o que influencia a forma como será tratada e percebida socialmente.
Primeiras Descobertas (0-6 anos)
Nos primeiros anos (0 a 3), a criança descobre seu corpo, especialmente durante o desfralde, e explora os genitais. Isso é natural e faz parte da construção da autoimagem, mas não deve ser confundido com sexualidade adulta. É nessa fase que começa a surgir o pudor, a noção de querer privacidade.
Entre os 4 e 6 anos, elas começam a entender papéis de gênero e a perceber diferenças entre os corpos. Podem surgir os famosos “jogos de médico” ou outras brincadeiras de curiosidade sexual. Este é um bom momento para ensinar higiene, autonomia e cuidado com o corpo de forma simples e sem medo.
Já entre 7 e 10 anos, na chamada “fase de latência”, o interesse se desloca para regras sociais e amizades, se as etapas anteriores foram bem vividas. Porém, o excesso de estereótipos (brinquedos “de menina” ou “de menino”, roupas rígidas) pode limitar a expressão de gênero. E atenção: sinais de sexualização precoce podem indicar exposição inadequada ou violência e merecem cuidado.
Puberdade e Adolescência (10-24 anos)
A puberdade traz mudanças físicas, hormonais e emocionais profundas. É a fase da descoberta do desejo e do erotismo. Hoje, o ambiente online é uma das principais fontes de informação, o que pode formar crenças distorcidas e padrões de comparação prejudiciais. A autoimagem pode ser fortemente impactada por padrões estéticos irreais.
É também o momento em que o adolescente se pergunta: “Quem sou eu sexualmente?”. As crenças sobre si mesmo, sobre o que é uma sexualidade “normal” e sobre o(a) parceiro(a) começam a se consolidar. Por isso, é fundamental falar sobre consentimento, relações saudáveis e pressões sociais. Para adolescentes LGBTQIA+, o apoio familiar e social é crucial para reduzir riscos de sofrimento psicológico.
A Sexualidade na Vida Adulta
Na vida adulta, a sexualidade continua se transformando. No caso dos homens, muitas vezes ela é reduzida à ereção e ejaculação, criando a ideia de que o desejo precisa estar sempre “ligado” e que a performance é prioridade. Isso gera sofrimento quando surgem dificuldades como baixa de desejo ou disfunção erétil.
Para as mulheres, o desejo costuma ser mais responsivo: ele aparece à medida que o corpo e o contexto favorecem. No passado, a ausência de orgasmo era ignorada; hoje é quase uma obrigação, o que pode causar ansiedade e frustração. Autoimagem negativa e a pressão estética também impactam a vida sexual.
Nos relacionamentos de longa duração, é comum que o desejo diminua. Ajustar o repertório, melhorar a comunicação e flexibilizar expectativas podem ser passos importantes para manter a intimidade viva.
A Sexualidade no Envelhecimento
O envelhecimento traz mudanças físicas e sociais, mas não significa o fim da sexualidade. A sociedade, porém, tende a ver os idosos como assexuados, o que dificulta o acesso a cuidados e apoio.
O desejo pode diminuir em frequência, mas não desaparece. Saúde física e mental, privacidade e uma parceria disponível são fatores que ajudam a manter uma vida sexual ativa e satisfatória.
Mulheres
A menopausa marca uma mudança importante: queda hormonal, ressecamento vaginal e dor nas relações são comuns, mas existem tratamentos. Curiosamente, muitas idosas sofrem menos com a diminuição do desejo, já que a pressão social sobre sua sexualidade também diminui.
Homens
Problemas na próstata e queda de testosterona podem afetar desejo e desempenho. Também é preciso adaptar o repertório sexual, explorando novas formas de prazer, já que o corpo responde de outra maneira.
Minorias Sexuais e de Gênero
Idosos LGBTQIA+ enfrentam desafios extras: preconceito, solidão e maior risco de problemas de saúde mental. Para pessoas trans, o envelhecimento pode ser especialmente difícil devido à violência social e falta de acesso a cuidados adequados.
Cuidando da Sexualidade em Todas as Fases
Promover saúde sexual significa oferecer educação de qualidade, combater preconceitos e incluir o tema em todas as etapas da vida. Profissionais precisam ouvir sem julgamento, respeitar a autonomia e ajudar cada pessoa a viver sua sexualidade de forma prazerosa e segura.
A sexualidade muda junto com a vida. Cabe aos profissionais (e a cada um de nós) aprender a negociar, flexibilizar e buscar satisfação que faça sentido, independentemente da idade ou das expectativas externas.
Se você tem vivido sofrimento sexual ou emocional ligado a sua sexualidade na fase em que está agora, saiba que existe apoio disponível. Buscar ajuda pode ser um passo importante para recuperar o bem-estar. Estudos mostram que pessoas sexualmente satisfeitas tendem a ter mais qualidade de vida em diferentes áreas. Caso sinta necessidade, estou à disposição para conversar e oferecer o suporte adequado.
Marcio Gadelha
Especialista em Sexologia e Sexualidade Humana
Especialista em Terapia Cognitiva Sexual